Was Oxford Worth While?

@WaughinPortuguese
5 min readJun 25, 2021

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Contexto (por Waugh in Portuguese): E.W. estudou no Hertford College, de Oxford, com bolsa de estudos, e terminou seus exames finais no verão de 1924, com notas baixas (Third-Class Honours). Ele não recebeu seu diploma pois não obteve todos os créditos necessários. Sobre a nomenclatura das notas em Oxford, veja explicação ao final do artigo.

Oxford Valeu a Pena?

No último fim de semana, fui à Oxford para uma festa da graduação. É quase final de ano letivo, e metade dos convidados está no meio dos exames finais. Eles respondiam às educadas perguntas sobre o seu progresso: “Oh, eu não sei. Com alguma sorte em meu viva*, posso conseguir a Second**” — que é a resposta padrão de todos que esperam pela First. Disse a mesma coisa seis anos atrás. Consegui a Third.

Cheguei à idade em que a maioria dos meus amigos da Universidade são professores. Eles continuam, período após período — hospitaleiros, maliciosos, inalterados. Foi uma experiência incomum ver muitos alunos de graduação, a maioria nos últimos dias do seu último ano, com as absurdas gravatas-borboleta brancas que supostamente transmitem uma aparência acadêmica. Isso me fez pensar se Oxford tinha valido a pena.

Quando pais e professores fazem essa pergunta a si mesmos e uns aos outros, eles geralmente querem dizer apenas uma coisa: o dinheiro gasto na educação universitária é um bom investimento? De três a quatro anos da vida de um jovem, em uma idade em que ele poderia estar ganhando uma certa quantia de dinheiro, estão ocupados em gastá-lo. A quantia, é claro, varia muito de um homem para outro, mas suponho que custe em média cerca de £1.000 para obter um diploma.

Há um correspondente aumento na capacidade de ganho do graduado? O dinheiro teria sido mais bem empregado em alguma faculdade de ensino técnico?

Desse ponto de vista, pelo que posso julgar por experiência própria e de meus amigos, Oxford certamente não vale a pena. Quando me formei, o único trabalho que consegui foi o de ensinar Clássicos para meninos bagunceiros do ensino fundamental com um salário anual de £160. Dos meus contemporâneos, apenas um está ganhando “dinheiro de verdade”; ele é uma estrela de cinema em Hollywood; aliás, ele saiu de lá por não ser aprovado nas matérias preliminares.

Outro amigo, por outro lado, recebeu grandes notas em Mods and Greats*** e também se dedicou ao trabalho no cinema. Ele consegue um papel com o pessoal da Elstree**** cerca de uma vez por mês. Outro estudioso que conseguiu duas First e foi presidente do Junior Common Room***** tornou-se pároco.

Outro amigo que teve uma carreira exemplar em todos os ramos da vida universitária passou um mês com fome no ano passado até ser descoberto; outro, que tinha uma reputação brilhante entre seus colegas de graduação, mora em uma sala de dormir sombria e faz resenhas ocasionais para revistas de estabilidade financeira precária.

No que diz respeito ao retorno monetário, nossos pais teriam feito muito melhor se nos tivessem enviado a Monte Carlo para tentar a sorte nas mesas de jogo.

Mas, é claro, essa é uma maneira estreita e tola de considerar a educação. Uma questão muito mais pertinente é: Oxford e Cambridge mantêm uma tradição de cultura genuína?

A julgar pelos rostos inexpressivos e conversas ainda mais inexpressivas dos jovens em um salão de baile de Londres, suspeitar-se-ia que não. A julgar pela decoração dos quartos do meu tutor, dir-se-ia com certeza que não. Oxford não está atualizada com as últimas teorias de estética e psicologia de Berlim e Paris. Muitas das faculdades estão longe de ser higiênicas. Um grande número de alunos de graduação expressa o mais sincero desprezo por tudo o que tenha a ver com a Arte ou com o intelecto.

Mas existe um outro lado. Oxford é arquitetonicamente uma cidade de graça e magnificência peculiares, e é impossível para alguém, por mais profunda que seja sua aparente preocupação com a caça, golfe ou bridge, viver lá por três ou quatro anos sem ser influenciado por ela.

Todo o mal-entendido sobre o valor da vida universitária me parece provir de duas heresias extremas. De um lado, estão aqueles que esperam que a Universidade seja uma espécie de seguradora, na qual o dinheiro é pago e da qual muito dinheiro é, eventualmente, extraído. Eles esperam que o diploma de Bachelor of Arts seja um distintivo que lhes dará preferência instantânea sobre os concorrentes mais pobres, e em nove entre dez casos eles ficam desapontados.

Por outro lado, existem aqueles que esperam que Oxford seja como um romance de Oxford, um lugar de vida fácil, conversa sutil e amizades iluminadoras. Eles esperam que seja uma espécie de microcosmo da sociedade Whig do século XVIII, combinado com um modernismo infinitamente sofisticado. Eles também ficam desapontados.

A verdade é que Oxford é simplesmente uma cidade muito bonita na qual é conveniente segregar um certo número de jovens enquanto eles crescem. É um absurdo fingir que um menino de dezoito anos, por mais sólido que tenha sido como monitor de escola, seja um homem adulto. Aqueles que escolhem ou são obrigados a iniciar um trabalho regular, remunerado e responsável no momento de deixar a escola, principalmente se tiveram uma adolescência bem cuidada, frequentemente apresentam sinais de uma espécie de desenvolvimento interrompido.

É só porque Oxford os mantém longe de suas carreiras que ela tem valor.

Isso lhes dá mais quatro anos para crescerem gradualmente. Isso os coloca fora do caminho de seus concidadãos, enquanto eles estão se fazendo de idiotas. Eles podem aprender a ficar bêbados ou a não ficar bêbados; eles podem editar seus próprios artigos e expor suas opiniões; eles podem aprender como dar festas; eles podem descobrir, antes que eles estejam muito ocupados, o que realmente os diverte e os excita; e eles podem fazer tudo isso em uma cidade por si próprios.

Depois disso, eles podem começar os trabalhos enfadonhos e fúteis que os esperam pela maioria deles, com muito mais chance de manter seu senso de humor e respeito próprio.

Daily Mail, 21 de junho de 1930.

*Nota Waugh in Portuguese: Viva é um exame oral.

**Nota Waugh in Portuguese: Nas universidades britânicas, geralmente os alunos se formam com ou sem “honras” (honours), com base na média de suas notas. São três graus: First-Class Honours, Second-Class Honours, e Third-Class Honours. Geralmente, um First-Class degree é abreviado para “um(a) First (Primeiro ou Primeira”), e assim por diante.

***Nota Waugh in Portuguese: Mods and Greats são matérias do curso de Clássicos, dentro da graduação em Bachelor of Arts. Mods vem de honour moderations e Great são as matérias de história grega e romana.

****Nota Waugh in Portuguese: Elstree é um termo genérico para os estúdios de cinema que ficavam na vila de Elstree, na cidade de Hertfordshire, Inglaterra.

*****Nota Waugh in Portuguese: Associação dos alunos da graduação de Oxford.

Foto de Evelyn Waugh na juventude

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Não-ficção e contos de Evelyn Waugh inéditos em Português. A reprodução é autorizada desde que feita com crédito a esta página.

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